Bom falante: essa é a principal característica do especialista em linguagem professor Adalberto José Kaspary. Durante o curso ministrado a servidores do TRE/SC, defendeu a idéia de simplificar a linguagem, principalmente quando a comunicação é direcionada para o público externo. Para mostrar o quanto é importante abandonar antigos termos e substituir as redações administrativas, que muitas vezes permanecem ao longo dos anos, o professor sempre tem uma boa história para contar. A cada narração, o aluno descobre que a língua portuguesa não é um "bicho-de-sete-cabeças" e que deve escrever para se comunicar e não para impressionar. Ele não poupa críticas àqueles que se apegam ao rebuscamento, criando, assim, uma barreira entre o cidadão e a Justiça.
Notícias TRE/SC: Há uma "regra" principal para escrever?
Kaspary: Eu sempre digo que o 11º mandamento deveria ser economizar palavras. Há um ditado que diz: "não se pode confiar em um homem que escreve uma frase com 13 palavras, quando a mesma frase poderia ser redigida com 12". Além da clareza e da economia ao escrever, na hora de falar é preciso lembrar que o público não entende termos técnicos. Quando um cidadão acompanha uma entrevista no rádio ou na televisão e o entrevistado fala díficil, geralmente o ouvinte pensa: "quem é esse cara que só enrola?". Este tipo de atitude depõe contra o entrevistado.
Notícias TRE/SC: O uso de termos técnicos pode gerar problema de comunicação?
Kaspary: Sim, é um dos principais problemas. O linguajar técnico não pode ser usado quando estamos falando com um leigo. Sempre cito um caso quando o juiz perguntou para um agricultor em uma audiência: "o senhor é o detrator"? O agricultor respondeu - não, eu sou o de pick-up, o de trator é o outro.
Notícias TRE/SC : Existe uma tendência em alterar a linguagem jurídica, torná-la mais acessível?
Kaspary: Já há pessoas que são referência no setor jurídico que defendem a simplificação da linguagem. A ministra Ellen Gracie durante a sua posse no STF ressaltou que os juízes devem lembrar que escrevem para o povo. É preciso lembrar que o magistrado não escreve para a academia jurídica.
Notícias TRE/SC: Nas outras áreas de conhecimento como economia e medicina, por exemplo, há também sempre o uso de termos técnicos?
Kaspary: Sim, claro que há, essas áreas também usam muitos termos técnicos que só pessoas da mesma área entendem. Só que em todos estes anos eu tenho percebido que a pior praga é a linguagem jurídica, porque além dos termos técnicos há muito rebuscamento no texto. Chamo este tipo de pessoa que enfeita muito ao escrever de *repolhudo. E o pior é que quando conseguimos matar um repolhudo nascem mais três (risos). Sempre é bom lembrar que não escrevemos para os nossos pares.
* Segundo o dicionário Houaiss, repolhudo significa "obscuro por excesso de palavras"
Notícias TRE/SC: Além de todos os cuidados ao escrever, quais as dicas na hora de falar para o público?
Kaspary: Falar bem não significa falar díficil. O importante é falar com clareza, eu posso falar bem sem falar errado e sem rebuscamento. Outra dica importante: nunca fale errado, nem mesmo para uma pessoa muito simples. Quando a pessoa é referência para outra, as pessoas mais simples podem reproduzir este discurso, então fale corretamente. (ER/ECW)
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